terça-feira, 10 de novembro de 2009

POBRE, IDOSO E NA RUA: UMA TRAJETÓRIA DE EXCLUSÃO


Segundo estudo realizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (com 621, albergues há tendência ao envelhecimento da população albergada: em 2000, 12,7% das pessoas tinham 55 anos ou mais, em 2003, 19,9%, e, na atual pesquisa, de 2006, a população idosa representa 23,1% . Enquanto em 2000 a idade média dos adultos albergados era de 41,2 anos, hoje essa média é de 44,7 anos. O envelhecimento da população geral brasileira, assim como do mundo, já mereceu muitos. tipos de análises e justificativas para seu processo.
Porém, como citado anteriormente, pela pequena quantidade de estudos nessa área há dificuldade em explicar o fenômeno na população de rua. Não se sabe nem porquê o morador de rua envelheceu e nem o que acontece com ele depois disso. O aumento do número de idosos na rua foi alvo de pesquisa em São Francisco, nos Estados Unidos, na qual foi analisada a tendência ao envelhecimento da população de rua local. A média de idade dos moradores de rua da região aumentou de 37 para 46 anos ao longo de um período de 14 anos, entre 1990-2004. Fato semelhante foi encontrado em outras cinco cidades americanas
Na cidade de São Paulo, esse fenômeno do envelhecimento na rua se repete, levando a pensar que o aumento da média de idade dos moradores de rua tem se cronificado nas sociedades capitalistas, de maneira geral. Os antigos adultos moradores de rua envelheceram e se encontram em condição estática. O adulto agora é idoso, e suas chances de re-inserção social diminuem gradativamente. O que acontece com a população de rua depois que envelhece também é algo pouco conhecido. Apesar do abrigo - lócus da pesquisa - ser para pessoas de 60 anos ou mais, não se encontra nenhum idoso acima de 70 anos. Não há a explicação para esse fato, porém, hipóteses podem ser levantadas. O indivíduo deve estar hígido a fim de poder sobreviver na rua. A maioria é andarilha, em busca de comida, acolhimento e proteção. Uma vez perdida a capacidade física de se locomover pela cidade, às estratégias de sobrevivência são prejudicadas. Daí o questionamento, aqui: eles morrem ou são acolhidos por alguma entidade, alguma instituição de longa permanência, por exemplo?
Quanto à procedência, a SMADS detectou que pequena parte dos albergados é proveniente da própria capital e a maioria provém das Regiões Nordeste e Sudeste. No abrigo estudado, constata-se que nove idosos são da Região Nordeste e dez da Sudeste, e que apenas dois nasceram em São Paulo. Dezesseis idosos moram nessa cidade há mais de 20 anos, o que leva a pensar que deveriam ter estabelecido vínculos afetivos ou algum tipo de rede social de suporte na cidade. Porém, o suporte social que se identifica foi apenas institucional: o abrigo. Nas trajetórias de vida dos moradores de rua há a ruptura de laços familiares, abandono de papéis carregados de responsabilidade e de afetividade. Isso reflete na efemeridade dos vínculos afetivos que estabelecem na rua. Ao mesmo tempo em que há a ruptura familiar, a dependência institucional se torna evidente. Essa dependência, caracterizada pelo uso de equipamentos de assistência, pode favorecer a fixação dessa população nas ruas. A existência desses projetos é de suma importância para a sobrevivência dos moradores de rua, no entanto, ela pode interferir negativamente no processo de re-inserção social, contribuindo para a falta de estímulos para a busca por sua autonomia. Com isso, ao invés de prepará-lo e instrumentalizá-lo para o resgate de sua cidadania, impede-o de desenvolver sua autonomia necessária para o rompimento de laços de dependência e, conseqüentemente, a saída das ruas.
Sendo a família o agente primário de socialização, e servindo como rede de apoio em momentos de crise do indivíduo, a falta dela pode levar a sérias conseqüências. A assistência familiar é inexistente na maioria da população de rua. Assim, a ruptura dos vínculos familiares acrescida da ruptura dos laços trabalhistas é considerada o “ponto zero” no processo de rualização, principalmente no caso da sociedade brasileira, em que a unidade familiar é o suporte para as relações sociais da classe trabalhadora pobre, a sua ausência pode ser um fator determinante nesse processo. Pode-se observar esse fato quando se identificou que doze dos entrevistados têm parentes na cidade de São Paulo, porém, apenas três mantêm contato freqüente. Onze têm parentes fora da cidade e apenas um mantém contato. Concomitantemente a esse dado, cinco dos entrevistados afirmaram que o desajuste familiar foi o motivo que os levou para rua. Além disso, apesar da falta de apoio familiar não ser considerada como fator limitante da ida para as ruas dos demais entrevistados, ela esteve presente em diversas outras narrativas.
Dois conjuntos de fatores interagem quando se pensa os motivos pelos quais as pessoas se tornam moradores de rua. Primeiro, há as tendências amplas, estruturais no nível macro e, segundo, há fatores biográficos ou no nível individual. No caso da população estudada, o fator de nível individual foi identificado como a falta de apoio familiar, já mencionada.
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